Lisboa. Um destes dias… de manhã, no Largo Camões. Estava um rapaz, dos seus vinte e qualquer coisa anos, guitarra eléctrica, sapatilhas azuis, os olhos também eram azuis. E saltava na calçada, com uma vivacidade e alegria contagiantes. Foi ali mesmo ao som dessa guitarra, que conversei com alguns seres humanos desconhecidos, pedindo um sinónimo da palavra ‘Coragem’ … para a ardósia. Ninguém respondeu.
Foi à tarde, do mesmo dia da guitarra. No cais de Peniche. Três bancos corridos, treze antigos pescadores, bonés pretos, bochechas e olhares calejados pelo tempo. Sentei-me junto deles, conversa puxa conversa… perguntei-lhes o que era a ‘Coragem’… doze deles olharam para o mar e nada disseram. Um dos senhores, levantou-se de rompante, e com os braços no ar, gritou: “Menina, Coragem … Coragem foi o 25 de Abril, que nem aqui onde estamos conseguíamos conversar, que vinha logo a PIDE perguntar do que falávamos. Agora? Agora as pessoas já podem conversar. Mas nada dizem, com medo de viver.”
O senhor não quis escrever na ardósia. Mas escreveu na minha memória, o seu grande olhar, de braços no ar, a mirar o mar… cheio de garra a pronunciar-se sobre e pela Vida.
Hoje. Entardecer. São Martinho do Porto. Foi essa a terra que escolhi para simbolizar a palavra ‘Coragem’ e toda esta analogia… que não deixa de ser irónica. Ninguém teve a coragem de pegar no giz e escrever. Porque estranhamente é muito mais fácil falar dos medos.. do que das coragens.
São Martinho do Porto é uma baía, para lá das rochas é o Oceano Atlântico. As ‘gentes’ ficam-se pela baía, é de nado fácil, sem ondas, sem correntes. Não existe o perigo de afogamento. Para lá das rochas o Oceano, só passa as rochas quem tem coragem de enfrentar o inesperado, os medos, as anomalias, o passado, as lágrimas. São as pessoas. Essas. De Coragem. Que deixam a baía do ‘apenas limitarmo-nos a existir’, e ousam nadar no Oceano da… Vida.
8 comentários:
F*da-se!
Conseguiste-me comover!
Po c*****o!
(Sim, foi por falta de coragem que usei asteriscos!)
FUCK!
Quem os tem, é.
Roubaste-me um sorriso, quando li a palavra Vida.
Pois, foi a primeira em que pensei que escreveria na ardósia.
:)
Lindo, genuino, verdadeiro!
grande metáfora destes dias que se vivem...
de um tempo de medrosos e merdosos.
não desistas de ser "estranha"...
há quem diga que coragem tem origem na palavra coração, esquecer a mente e agir... mesmo com o medo à espreita.
ps: Bonito céu , na fotografia.
Coragem seria contactares-me
Gostei da resposta do pescador de Peniche...
:)
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